Uma incursão num mercado mensal de velharias permitiu-me descobrir e comprar um livro de fotografia sobre a Guiné-Bissau, pátria de Amílcar Cabral. Foi publicado em 1975 ou 1976 pelas Éditions Delroisse (Paris) com autoria de Michel Renaudeau, fotógrafo consagrado que esteve a trabalhar em diversos países africanos (Senegal, Guiné Conakry, Mali, Mauritânia, Cabo Verde, etc.) nas décadas de 1970 e 1980.
Através de textos curtos, mas suficientemente detalhados, e de numerosas imagens apresenta-se uma viagem atenta por um país que acabou de conquistar a sua independência nacional. O livro abre com duas fotografias histórias e simbólicas: o arrear da bandeira portuguesa e o hastear da bandeira da República da Guiné-Bissau, no dia 10 de Setembro de 1974.
É perturbador que ao longo do livro o único rosto sorridente seja o de Titina Silá, heroína nacional, uma digna combatente pela independência que foi morta por afogamento no Rio Farim, a 30 de Janeiro de 1973, durante uma emboscada levada a cabo pelas tropas portuguesas que combatiam os guerrilheiros do PAIGC. Nessa data Ernestina (Titina) Silá deslocava-se para a Guiné Conakry, para assistir ao funeral de Amílcar Cabral, assassinado à traição por guerrilheiros do PAIGC dez dias antes...
Folheando o livro vão surgindo imagens do dia-a-dia dos guineenses. Encontram-se também diversas imagens aéreas e duas delas, uma de Gabú e outras das bolanhas (campos de cultivo de arroz), são particularmente bonitas e interessantes. No final, o fotógrafo chega à capital, Bissau.
Recentemente, pediram-me uma data relevante da Guiné-Bissau para fazer uma carta astrológica do país. Sugeri três:
20 de Janeiro de 1973, o dia em que Amílcar Cabral foi assassinado e que representa o fim do sonho e da esperança guineenses;
24 de Setembro de 1973, o dia em que a independência nacional foi unilateralmente declarada pela Assembleia Nacional Popular e que representa a ilusão e o início do desencanto dos guineenses;
10 de Setembro de 1974, o dia em que a Guiné-Bissau se tornou nação independente de Portugal, data reconhecida pela comunidade internacional.
Faltou a data do assassinato de Titina Silá, que é agora relembrada anualmente no país como o dia da mulher guineense.
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