Em Cabo Verde, na Ilha de Santiago, deflagrou na manhã de 1 de Abril de 2023 um incêndio em território rural e natural. Foi dado como extinto ao final do dia 3 de Abril, depois de causar nove mortos e de queimar 846,8 hectares, área que corresponde a 0,85% da totalidade da maior ilha do arquipélago caboverdiano.
Oito militares, falecidos num acidente de viação directamente relacionado com o esforço de combate às chamas, e um monitor ambiental do Parque Natural da Serra Malagueta, foram as perdas irreparáveis do incêndio rural e florestal que se estendeu pelos concelhos de Santa Catarina e do Tarrafal de Santiago.
No que diz respeito ao território atingido pelo fogo, a utilização de imagens dos satélites SENTINEL 2A e 2B, do Programa europeu Copernicus, permite uma visualização detalhada da área afectada. Os dois satélites asseguram, com intervalos de cinco dias, a recolha de imagens com resoluções espaciais entre os 10 e os 60 metros. Nesta análise, que foi levada a cabo para avaliar da extensão da área queimada, foram utilizadas três imagens multi-espectrais distintas:
SENTINEL 2A 27 de Março de 2023 12:16:51 (antes do início do incêndio)
SENTINEL 2B 1 de Abril de 2023 12:16:59 (pouco depois do início...)
SENTINEL 2A 6 de Abril de 2023 12:16:51 (após extinto o incêndio)
Foi igualmente utilizado o Índice NBR (Normalized Burn Ratio), que recorre às bandas 8A (NIR) e 12 (SWIR), para determinar de forma objectiva e semi-automática a distribuição e extensão da área afectada.
As Figuras 1.A e 1.B ilustram a situação do território antes de deflagrar o incêndio. A Figura 1.A é uma imagem preparada através das bandas 4, 3 e 2, e apresenta o território em cor natural (RGB). No canto inferior esquerdo da imagem pode ver-se a Ilha de Santiago e a localização geral da área queimada, a qual está também assinalada na imagem principal através de linhas de cor preta. A Figura 1.B foi preparada através das bandas 8, 4 e 3, e apresenta o território em infravermelhos com cores falsas (infrared false colors). Neste tipo de imagens a vegetação apresenta-se com tonalidades vermelhas, tanto mais intensas quanto mais densas e saudáveis estão as plantas.
As Figuras 2.A e 2.B são directamente comparáveis, mas ilustram a situação do território após a extinção do incêndio. Nas duas combinações de bandas as áreas recentemente ardidas surgem representadas com tonalidades castanhas escuras. A Figura 3.A, recolhida pelo satélite SENTINEL 2B poucas horas após o início do evento, permite ver de forma bastante explícita o fumo resultante da combustão dos materiais vegetais e localizar onde começou o incêndio.
A Figura 3.B apresenta o resultado da aplicação do Índice NBR às imagens de 27 de Março e 6 de Abril de 2023. A área afectada está representada a vermelho sobre a cartografia OSM (Open Street Map), a qual permite obter referências geográficas locais e regionais como a rede viária principal, numerosas localidades, os limites administrativos dos concelhos de Santa Catarina e do Tarrafal, o limite do Parque Natural da Serra Malagueta, diversos pontos topográficos importantes e ainda os principais vértices geodésicos.
A utilização de um SIG (Sistema de Informação Geográfica), indispensável para calcular os Índices NBR, permite também medir a extensão da área afectada pelo incêndio e que é, na sua totalidade, de 8,468 km2 ou de 846,8 hectares. Ao concelho de Santa Catarina pertencem 536,64 hectares, ou seja, 63,4% da totalidade desse território, enquanto que ao concelho do Tarrafal pertencem os restantes 310,12 hectares, ou seja, 36,5%.
Nota: versões mais detalhadas das Figuras 1.A a 3.B e também um shapefile com a delimitação do território afectado pelo incêndio podem ser descarregados AQUI.
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