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285 items found for ""

  • Colecção fotográfica de um incógnito fotógrafo, eventual marido de Maria Teresa...

    Deparei-me recentemente num mercado de velharias algarvio com uma colecção de fotografias de viagens datadas da década de 1960, com registos feitos em Itália, Grécia, Egipto e Turquia. A colecção conta ainda com um outro conjunto de fotografias feitas em Portugal. O conjunto estrangeiro é constituído por 227 fotografias a preto e branco, com dimensões aproximadas de 12 x 9 cm. Estão numeradas, legendadas e quase todas datadas de forma criteriosa pelo fotógrafo, incógnito. A única pessoa que surge de forma recorrente é identificada como sendo Maria Teresa, eventual esposa do autor dos registos fotográficos. Foram duas as viagens que deram origem à colecção. Uma a Roma, em Maio de 1964, com 55 fotografias, e outra à Grécia, Egipto e Turquia, em 1966, que terá certamente sido feita durante um cruzeiro turístico pelo Mediterrâneo. São 43 fotografias do Egipto, feitas entre 29 de Abril e 12 de Maio, 95 fotografias da Grécia, entre 21 e 24 de Abril e também entre 5 e 10 de Junho, e 33 fotografias da Turquia, entre 25 de Maio e 9 de Junho. A - Chiesa della Santissima Trinità dei Monti, Roma | B - Maria Teresa frente ao Parthenon, na Acrópole de Atenas | C - entrada do templo funerário de Ramsés III | D - Gare Marítima de Istambul É uma interessante colecção de fotografias de viagens que permite redescobrir memórias de imagens de locais e paisagens com quase seis décadas, e também conhecer as escolhas fotográficas e os enquadramentos adoptados por um português que viajou com uma máquina fotográfica na mão, à frente de um olhar atento...

  • A HIPÓTESE DO CINZENTO

    Num país a preto e branco recomendaram-me o cinzento. Um recurso extraordinário. Com a hipótese do cinzento poderia ensaiar soluções inusitadas experimentar o morno (que não é frio nem quente) explorar o lusco-fusco (que não é noite nem dia) praticar a omissão (que não é mentira nem verdade). [...] Com a paleta dos cinzentos poderia aprimorar a arte da sobrevivência que (como os mansos bem sabem) é não estar vivo nem morto. João Luís Barreto Guimarães nómada, editora Quetzal, 2018

  • Guiné-Bissau - um livro e três datas

    Uma incursão num mercado mensal de velharias permitiu-me descobrir e comprar um livro de fotografia sobre a Guiné-Bissau, pátria de Amílcar Cabral. Foi publicado em 1975 ou 1976 pelas Éditions Delroisse (Paris) com autoria de Michel Renaudeau, fotógrafo consagrado que esteve a trabalhar em diversos países africanos (Senegal, Guiné Conakry, Mali, Mauritânia, Cabo Verde, etc.) nas décadas de 1970 e 1980. Através de textos curtos, mas suficientemente detalhados, e de numerosas imagens apresenta-se uma viagem atenta por um país que acabou de conquistar a sua independência nacional. O livro abre com duas fotografias histórias e simbólicas: o arrear da bandeira portuguesa e o hastear da bandeira da República da Guiné-Bissau, no dia 10 de Setembro de 1974. É perturbador que ao longo do livro o único rosto sorridente seja o de Titina Silá, heroína nacional, uma digna combatente pela independência que foi morta por afogamento no Rio Farim, a 30 de Janeiro de 1973, durante uma emboscada levada a cabo pelas tropas portuguesas que combatiam os guerrilheiros do PAIGC. Nessa data Ernestina (Titina) Silá deslocava-se para a Guiné Conakry, para assistir ao funeral de Amílcar Cabral, assassinado à traição por guerrilheiros do PAIGC dez dias antes... Folheando o livro vão surgindo imagens do dia-a-dia dos guineenses. Encontram-se também diversas imagens aéreas e duas delas, uma de Gabú e outras das bolanhas (campos de cultivo de arroz), são particularmente bonitas e interessantes. No final, o fotógrafo chega à capital, Bissau. Recentemente, pediram-me uma data relevante da Guiné-Bissau para fazer uma carta astrológica do país. Sugeri três: 20 de Janeiro de 1973, o dia em que Amílcar Cabral foi assassinado e que representa o fim do sonho e da esperança guineenses; 24 de Setembro de 1973, o dia em que a independência nacional foi unilateralmente declarada pela Assembleia Nacional Popular e que representa a ilusão e o início do desencanto dos guineenses; 10 de Setembro de 1974, o dia em que a Guiné-Bissau se tornou nação independente de Portugal, data reconhecida pela comunidade internacional. Faltou a data do assassinato de Titina Silá, que é agora relembrada anualmente no país como o dia da mulher guineense. Ver também: Rostos de Guiné-Bissau AQUI Amílcar Cabral: "Uma pessoa assim só vai surgir daqui a cem anos", no Público Amílcar Cabral, herói lembrado na Guiné.Bissau e Cabo Verde, no VoA

  • Barragem da Bravura: faltam água e planos para o futuro

    A Barragem da Bravura, a única existente na Bacia Hidrográfica das Ribeiras do Algarve, é uma infra-estrutura do final da década de 1950 (inaugurada em 1958), e foi naqueles tempos pensada para alimentar o Perímetro de Rega do Alvor. Mas hoje, com uma agricultura pouco dinâmica, a água da albufeira é vendida a quatro grandes grupos de clientes. As Águas do Algarve consomem cerca de 65% das reservas, enquanto que os campos de golfe, nomeadamente Penina, Palmares e Morgado do Reguengo, consomem um pouco mais do que 15%. A agricultura consome um pouco menos. O quarto cliente da Associação de Regantes e Beneficiários do Alvor (ARBA), a entidade responsável pela gestão e manutenção quer da barragem quer da rede de infra-estruturas de distribuição de água, é a EDP, já que quando a descarga é feita com um caudal significativo há ainda a oportunidade para activar uma infra-estrutura destinada à produção de energia eléctrica. Barragem da Bravura, no dia 10 de Setembro de 2020. Neste final de Verão de 2020 as reservas da albufeira da Bravura estão quase esgotadas. Há muitos anos que não se via uma situação como a actual e, na verdade, é necessário retroceder até 1995 para encontrar algo pior. Os anos de 1982, 83 e 84 também foram muito difíceis, mas, por exemplo, a seca de 2005 não foi severa a ponto de levar a albufeira a um estado como o actual. Hélder Henriques, o Presidente da Direcção da ARBA, explicou que o principal responsável é a falta de chuva e afirmou recentemente que os consumos de água não têm vindo a aumentar. O decréscimo da precipitação é um facto inegável. Basta analisar os valores da Estação Meteorológica de Portimão, pertença da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve, já que as duas estações existentes na Bravura, da responsabilidade da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), não têm dados actuais disponíveis. Os valores da E.M. Portimão evidenciam bem que na primeira metade da série estudada (anos hidrológicos de 2006-2007 a 2019-2020) os valores totais anuais de precipitação estavam quase sempre acima da média, enquanto que na segunda metade passaram a estar quase sempre abaixo da média. Quanto aos volumes totais de água fornecida por época de rega, entre 2006 e 2019, segundo informações fornecidas pela ARBA, nos mais recentes anos verificou-se uma redução generalizada, embora com uma tendência de crescimento desde 2014. E essa tendência, de sentido contrário ao da precipitação total anual, estará a contribuir para que a albufeira, no final de cada Verão, tenha o seu nível um pouco mais abaixo do que tinha em data comparável do ano anterior. Para os aumentos de consumo de água entre 2014 e 2019 terão contribuído os aumentos de áreas regadas com pomares (143 para 192 ha), hortícolas (64 para 121 ha), vinha (37 para 78 ha), bem como o fornecimento de água para os golfes (207 para 275 ha). No mesmo intervalo de tempo, a área total regada a partir da Barragem da Bravura passou de 572 para 773 ha. A área total do Perímetro de Rega do Alvor é, no entanto, muito maior, superior a 1700 ha, número que evidencia um acentuado sub-aproveitamento agrícola das infra-estruturas construídas no tempo do Estado Novo. As necessidades de água para o abastecimento público vieram a beneficiar desse sub-aproveitamento, mas por estranho que possa parecer a captação é feita na ETA das Fontaínhas, já próximo de Portimão, no final de uma longa conduta a céu aberto, onde se verificam permanentemente perdas de água por evaporação e em fugas sempre existentes neste tipo de obras de arte. A Barragem da Bravura e o Perímetro de Rega do Alvor parecem estar, neste momento, a necessitar de uma reflexão sobre o futuro. Os consumos globais de água no Algarve têm vindo a aumentar progressivamente, ao longo dos anos, e as disponibilidades regionais têm vindo a reduzir-se. Cada vez se gasta mais, cada vez a chuva fornece menos! No futuro próximo pretende-se continuar a gastar ainda mais, na agricultura e provavelmente no consumo público, mas os cenários climáticos consolidados apontam para que a redução da precipitação se vá continuar a fazer sentir. Neste contexto de crise hidrológica estrutural, infra-estruturas como a Barragem da Bravura necessitam imperiosamente de se ajustar aos tempos presentes e futuros, para assegurar a melhor gestão de um bem que cada vez é mais escasso e precioso! Condutor principal de água do Perímetro de Rega da Bravura. OS AVISOS DO IPMA Ao longo do ano de 2020 o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) foi emitindo um conjunto de notícias sobre o evoluir do estado do tempo em Portugal. A 29 de Maio, por exemplo, os especialistas do IPMA informavam que a segunda quinzena de maio (...) tem sido caracterizada por valores altos da temperatura máxima do ar, muito superiores aos valores normais para este mês. O país atravessou uma onda de calor que se estendeu por vários dias e em Castro Marim, no dia 23, atingiram-se os 36,1ºC. A 19 de Junho, numa notícia sobre “Seca e Desertificação em Portugal continental”, os especialistas alertavam para o decréscimo progressivo da precipitação e informavam que se verifica um decréscimo dos valores anuais, cerca de -20 mm/década, tendo os últimos 20 anos sido particularmente pouco chuvosos em Portugal continental. Na mesma oportunidade alertava-se para que os cenários apontam para a diminuição da precipitação (...) no Sul, entre 15 a 30%. No dia 4 de Julho o IPMA publicava uma nova notícia, então dedicada a um Junho muito seco, e escrevia o mês de Junho classificou-se como muito seco, com um valor médio da quantidade de precipitação muito inferior ao normal, apenas 27 % do valor médio. (...) Verificou-se uma diminuição significativa dos valores (...) de água no solo (...) e um aumento da área em seca meteorológica. A 7 de Agosto os especialistas informavam que julho de 2020 foi o mais quente dos últimos 90 anos (desde 1931), e que o valor médio da temperatura média do ar, 25.08°C, foi muito superior ao normal, +2.91°C. Por fim, no passado dia 4 de Setembro surgiu nova notícia, intitulada “Agosto quente e verão muito quente”, ficando-se a saber que 2020 foi o 13º verão mais quente dos últimos 90 anos, com um valor médio da temperatura do ar de 22.42 °C (+1.17 °C em relação ao valor normal), e que se verifica que 9 dos 15 verões mais quentes ocorreram depois do ano 2000, sendo 2005 o mais quente (23.43 °C).

  • Barragens do Sotavento Algarvio a caminho de mínimos históricos

    Barragem de Odeleite, 3 de Setembro de 2020 Foram já oficialmente divulgados os novos níveis de água armazenada nas albufeiras de Odeleite e do Beliche, as duas barragens algarvias integradas na Bacia Hidrográfica do Guadiana. No final de Agosto, na Barragem de Odeleite a água estava na cota 34,91 metros e na do Beliche na cota 34,83 metros. As duas barragens, como se sabe, estão interligadas e, em conjunto, são o principal garante da existência de água para o abastecimento público de todo o Sotavento Algarvio. Os números acima referidos, 34,91 e 34,83 metros, são importantes porque permitem conhecer o estado actual das disponibilidades de água e também porque permitem estabelecer expectativas para os próximos meses. Uma análise dos históricos das duas barragens revela que os meses de Novembro ou Dezembro são, salvo raras excepções, os primeiros meses de recarga, ou seja, quando o volume de água proveniente da precipitação e do escoamento superficial das ribeiras que abastecem as albufeiras é superior ao volume de água gasto pelo consumo doméstico, pela agricultura e pela evaporação. Quando se observam os históricos da última década (2010-2019) constata-se que, para as duas albufeiras, na primeira metade predominava Novembro como primeiro mês de recarga, enquanto que na segunda metade da década era Dezembro o primeiro mês de recarga. Quer isto dizer que até ao final de Novembro de 2020 se deve admitir como cenário muito provável que os armazenamentos nas duas barragens continuem a baixar, atingindo não só níveis mínimos históricos mas também registos muito preocupantes. Os dois valores agora observados são os mais baixos da série 2010-2019 e é necessário retroceder a Agosto de 2005 para encontrar registos inferiores, de 32,75 metros em Odeleite e 32,70 metros no Beliche. Com os valores observados no final de Agosto de 2020 e com a série 2010-2019 é possível avançar com algumas projecções até ao final de Novembro próximo. Para tal, a série foi estudada estabelecendo-se previamente quatro modelos distintos para a previsão: i. a média dos últimos dez anos (2010-2019): ii. a média dos últimos cinco anos (2015-2019); iii. a média dos últimos três anos (2017-2019); iv. apenas o ano de 2019. O gráfico ilustra os quatro padrões de variação da água na Barragem de Odeleite ao longo do ano, para os quatro modelos já referidos. Apresenta também os valores relativos ao ano de 2020. Na Barragem do Beliche os padrões são muito semelhantes. Os resultados são esclarecedores: com a média dos últimos dez anos será Novembro o primeiro mês de recarga; no final de Outubro a Barragem de Odeleite terá água à cota de 33,22 metros, ou seja ainda vai baixar 1,69 metros; na do Beliche os valores serão, respectivamente, de 33,13 e 1,70 metros; com a média dos últimos cinco anos será Dezembro o primeiro mês de recarga; no final de Novembro, em Odeleite a água estará à cota de 32,67 metros, ou seja ainda vai baixar 2,24 metros; no Beliche os valores serão, respectivamente, de 32,61 e 2,22 metros; com a média dos últimos três anos será novamente Dezembro o primeiro mês de recarga; no final de Novembro, em Odeleite a água estará à cota de 32,32 metros, ou seja ainda vai baixar 2,59 metros; no Beliche os valores serão, respectivamente, de 32,27 e 2,56 metros; por último, apenas o ano de 2019 continuará a ser Dezembro o primeiro mês de recarga; no final de Novembro, em Odeleite a água estará à cota de 31,33 metros, ou seja ainda vai baixar 3,58 metros; no Beliche os valores serão, respectivamente, de 32,25 e 3,58 metros. O gráfico ilustra as quatro projecções para o decréscimo das reservas de água na Barragem de Odeleite entre finais de Agosto e Novembro de 2020, para os quatro modelos já referidos. Na Barragem do Beliche os padrões são muito semelhantes. Como os níveis mínimos de exploração são, respectivamente, de 22 metros em Odeleite e 15 metros no Beliche, pode-se concluir que em Odeleite se estará nessa data entre 9 e 11 metros acima do mínimo, e no Beliche entre 17 e 18 metros acima do mínimo. Adoptando uma linguagem popular, é então possível afirmar-se que nos últimos meses de 2020 as reservas de água estarão quase a chegar ao fim. Adicionalmente, os mesmos cálculos permitem chegar a outra conclusão: quanto mais curto é o período considerado (dez, cinco, três ou apenas um ano) e mais próximo se posiciona do presente, mais baixo é o nível da água armazenada no final do período de decréscimo de armazenamento. Em Odeleite, com dez anos a água estará à cota 33,22 metros, mas com apenas um ano estará à cota 31,33 metros; no Beliche os números são, respectivamente, de 33,13 e 32,25 metros. Estas diferenças tanto poderiam resultar de um incremento progressivo de consumos, como de valores de evaporação cada vez mais elevados, como ainda de ocorrência de precipitação nos meses de Setembro a Novembro cada vez mais diminutas. Barragem do Beliche, 3 de Setembro de 2020 A Estação Meteorológica da Junqueira, Castro Marim, pertença da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Algarve, disponibiliza registos diários de temperatura média do ar, evapotranspiração potencial (ETo) e precipitação. Ao longo do período entre 2010 e 2019 as alterações verificadas nos dois primeiros parâmetros meteorológicos foram mínimas, ao contrário do que se identificou para a precipitação, onde o decréscimo foi acentuado. O gráfico acima ilustra essa realidade: a azul escuro está a precipitação acumulada nos meses de Setembro, Outubro e Novembro e a azul claro a acumulada em Setembro e Outubro; as duas rectas são as respectivas linhas de tendência (regressão linear). Assim, no período estudado (2010 a 2019) pode-se concluir que a quantidade de precipitação caída no Outono foi reduzida para cerca de metade, facto que certamente contribuirá, de forma decisiva, quer para o cada vez mais tardio início do re-enchimento das albufeiras, quer para os valores cada vez mais baixos dos armazenamentos de água nos finais de Outubro e Novembro. Consequentemente, é possível afirmar com elevado grau de certeza que as alterações observadas no regime da precipitação outonal estão a influenciar de forma marcante as disponibilidades de água armazenadas nas Barragens de Odeleite e do Beliche. Para a mesma estação meteorológica automática, também a precipitação total anual (ano civil) ao longo do período estudado apresenta um decréscimo digno de registo, facto que contribuirá para assinalar uma das causas que certamente explicará a progressiva redução interanual das reservas de água existentes nas duas albufeiras. Texto editado e publicado no jornal Barlavento.

  • Porque a paisagem é um bem público!

    A paisagem é um bem público cultural e sócio-económico. Sintetiza a identidade colectiva e informa sobre o bem-estar das comunidades humanas que a habitam ou que a habitaram. A paisagem é, igualmente, um bem público ambiental e ecológico. Sintetiza, consequentemente, o valor do território, da biodiversidade e de todos os serviços prestados pela Natureza, de que o Homem é um dos beneficiários. Pomar de pêra-abacate, a localidade de Barão de São João e os aerogeradores da Costa Vicentina. Autódromo Internacional do Algarve, uma central fotovoltaica, o Algarve Race Resort e a Serra de Monchique. Olhar para as paisagens, interpretá-las, comprendê-las, reflectir sobre elas, é hoje um exercício fundamental de cidadania activa. Os tempos são de rápidas mudanças e a artificialização intensiva do território é uma realidade que tanto ocorre à escala global como à escala local. O resultado do somatório de todos os processos é sempre mais do que a simples adição aritmética das partes. De igual forma, sendo a paisagem um bem público, o somatório de intervenções individuais em territórios privados é sempre uma intervenção na paisagem, no seu valor público, colectivo, que tanto é cultural e sócio-económico como é ambiental e ecológico. Fotografar paisagens é uma bom início de percurso para olhar para elas. E também para criar documentos que proporcionam a oportunidade de olhar repetidamente para elas, interpretá-las, compreendê-las, reflectir demoradamente. O recente advento dos drones, com as suas sucessivas gerações dotadas de sensores cada vez mais eficientes, está a promover um novo olhar atento sobre a paisagem e o território. O denominado drone's eye view é manifestamente distinto da visão captada pelo fotógrafo, a partir do solo (ground level eye view). Para a fotografia de paisagem emergem novos e desafiantes tempos! As duas imagens acima, feitas recentemente no Algarve, nos concelhos de Lagos e Portimão, permitem-me escrever (nas linhas e nas entre-linhas) sobre paisagens e territórios em transformação. Na primeira imagem destaca-se um pomar de pêra-abacate, a cultura agrícola intensiva que na região agora está na moda. Mas ao observador atento também não passará desapercebido, na linha do horizonte, um conjunto de aerogeradores. Agricultura e energia dominam assim nessa paisagem recente do Barlavento algarvio, depois de destronado o pomar de sequeiro, característico tanto pela diversidade de espécies (figueiras, amendoeiras, alfarrobeiras e oliveiras) como pela distribuição heterogénea (não obedecendo a geometrias elementares) das árvores no terreno. Na segunda imagem destaca-se o Autódromo Internacional do Algarve, mas pode-se também identificar uma central fotovoltaica de pequena extensão, uma unidade hoteleira e, em pano de fundo, a Serra de Monchique. Em vez de agricultura intensiva, a paisagem e o território foram aqui artificializados através da instalação de uma infra-estrutura desportiva grandiosa, que consigo arrastou a instalação de novas tecnologias de energia e justificou a construção de infra-estruturas para o alojamento turístico. Lado a lado, nas duas imagens, são mais os elementos de intervenção e transformação que as unem do que aqueles que as diferenciam. Identidade, cultura, sociedade e economia, ambiente e ecologia, biodiversidade, ciclos da água e dos nutrientes. Se forem estes os critérios de análise, não restarão muitas dúvidas sobre a existência de tantos elementos em comum. E quando começa a estar cada vez mais em cima da mesa a necessidade de um Observatório das Dinâmicas das Paisagens Algarvias, iniciativa perspicaz do Arq. Paisagista Desidério Batista, justifica-se igualmente olhar para estas duas imagens, meros exemplos de muitas outras possíveis, e estudá-las à luz de algumas de algumas das recomendações da Convenção Europeia da Paisagem, para cada uma das regiões que constituem o espaço europeu: to identify its own landscapes throughout its territory; to analyse their characteristics and the forces and pressures transforming them; to take note of changes.

  • vias vazias...

    ... e territórios abandonados. Um viaduto do IC 27 construído para atravessar a Ribeira da Foupana, nas proximidades de Palmeira, concelho de Alcoutim, atravessa a imagem de um extremo ao outro. Atrás, com os seus arcos brancos, é possível vislumbrar uma ponte da EN 122 sobre a mesma ribeira. Ao fundo, no centro da imagem, a povoação de Tenência, concelho de Castro Marim, e também diversos aerogeradores já em território andaluz. A sempre fiel e mui caudalosa Rib.ª da Foupana, onde alguns anseiam construir uma barragem e assim resolver os problemas da escassez de água no Sotavento algarvio, está seca e não mais tem do que alguns pegos e canaviais verdes nas margens, indiciando alguma humidade e, eventualmente, algum escoamento sub-superficial.

  • Lição de Geometria - agricultura intensiva no litoral do concelho de Vila Real de St.º António

    Landscapes as our own human habitat synthesize the identity of a territory and a people at a certain time in history. De regresso à actividade, mais uma foto para o projecto Paisagens e Territórios Algarvios em Transformação. O avanço da agricultura e fruticultura no litoral do Sotavento algarvio. Diversos pomares de laranjeiras e, no centro da imagem, um pomar de pêra abacate com cerca de 19 hectares, acabado de plantar. Quase ao fundo da imagem, para Oeste, um campo de golfe e a Norte da EN 125 observa-se parte de um campo de milho. Dominam na paisagem as linhas e ângulos rectos, característicos de uma agricultura intensiva e mecanizada. No centro do pomar de pêra abacate destaca-se um depósito de água, para regar as novas fruteiras. E para uma ténue memória do pomar de sequeiro algarvio, com as suas amendoeiras, figueiras, alfarrobeiras e oliveiras, sobreviveram meia dúzia de alfarrobeiras e uma casa agrícola. Mas esta última está em ruínas e as alfarrobeiras quase ficaram desfiguradas em consequência de uma enérgica poda!

  • Large Green Grasshopper

    Um gafanhoto verde grande (Chorthippus jucundus Fischer, 1853), fotografado na margem da Barragem de Verdelhos, no passado dia 10 de Agosto, em plena Serra da Estrela. IUCN Red List AQUI

  • Algarve em transformação continua!

    Começaram ontem, 8 de Julho, as recolhas de imagens para o 2.º capítulo das Paisagens e Territórios Algarvios em Transformação. Um capítulo que irá incidir sobre vertentes distintas de uma multifacetada realidade, e que teve início no Litoral do concelho de Lagoa, já bem próximo de Armação de Pêra (concelho de Silves). A imagem escolhida para integrar a colecção é, sem dúvida, interessante. Pode ser atentamente observada e interpretada com o auxílio dos dois eixos assinalados a amarelo. O maior, que acompanha a linha de costa, ilustra muito bem a transição entre uma (pequena) área semi-natural e arborizada, os relvados, piscinas e luxuosas moradias, e os prédios bastante altos de Armação de Pêra. O menor, que parte da linha de costa em direcção ao interior, ilustra muito bem a transição entre os mesmos relvados, piscinas e luxuosas moradias, a zona de construções mais densas e menos padrão classe alta e, na retaguarda, os terrenos agrícolas de sequeiro e com utilização extensiva. E nessa manhã de intenso trabalho de campo tive a companhia do amigo e fotógrafo Filipe da Palma, autor deste fantástico registo!

  • Grandes e médios incêndios no Algarve, desde 1975

    Considerando grande um incêndio que afectou uma área de pelo menos 100 km2 e médio um incêndio que afectou uma área de pelo menos 10 km2, segundo dados oficiais (ICNF) disponíveis, entre 1975 e 2019 ocorreram no Algarve seis grandes incêndios e quinze médios incêndios. A área total ardida nestes 21 eventos ronda os 2.000 km2, ou seja, 2/5 da área total da região. A Figura abaixo mostra a distribuição dos 21 grandes e médios incêndios referidos e a intensidade acrescida da cor representa a ocorrência de mais do que um incêndio na mesma área, durante o intervalo estudado. Quando um mesmo incêndio atingiu áreas no Algarve e no Alentejo, a parte alentejana é considerada, quer para a representação cartográfica, quer para a classificação em grandes e médios incêndios, quer ainda para os cálculos das áreas. O ano de 2003 foi o pior no que diz respeito a área total ardida, com 660,64 km2, seguido dos anos de 2018 e 2012. O ano de 2004 foi o ano com mais eventos (4), enquanto que em cada um dos anos de 1991, 1993, 1995, 2001 e 2016 ocorreram sempre dois eventos. O Gráfico abaixo ilustra a variação das áreas totais ardidas, ano a ano, ficando evidente que a série após a entrada no séc. XXI concentra os três anos mais devastadores. A Tabela seguinte sintetiza ano a ano, entre 1975 e 2019, os totais de áreas ardidas e os concelhos atingidos. Anos não incluídos nesta listagem são aqueles em que não ocorreu nenhum grande ou médio incêndio. O concelho de Monchique foi afectado por nove vezes, enquanto que os de Aljezur e Portimão foram-no seis vezes. Silves é o concelho seguinte neste ranking, com cinco vezes. Mas estes números já começaram a aumentar em 2020, depois do incêndio florestal e rural que atingiu os concelhos de Aljezur, Vila do Bispo e Lagos, no final de Junho...

  • Libélulas e libelinhas do Retiro da Fraguinha

    Uns dias de pausa para os lados de São Pedro do Sul, ou mais propriamente no Retiro da Fraguinha, proporcionaram-me o prazer de voltar à fotografia de natureza e, especialmente, à observação e fotografia de libélulas e libelinhas (Odonata). Aqui ficam alguns dos resultados... Cordulegaster boltonii ssp. boltonii (fêmea) Libellula quadrimaculata Casal de Pyrrhosoma nymphula em tandem (cima) e em oviposição (baixo) Casal de Enallagma cyathigerum em tandem (cima) e em acasalamento (baixo)

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